Quem deve gerir um Distrito de Inovação ?

Essa é uma pergunta estratégica de resposta complexa — como acontece com qualquer ecossistema.

No modelo paulista, parques tecnológicos foram concebidos como distritos de inovação em potencial. Mas o que isso significa, na prática? Que o território precisa mais do que infraestrutura física. Precisa de uma governança capaz de articular diferentes interesses e lógicas — públicas, privadas, científicas — em torno de um projeto de pesquisa e desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação.

Isso não se faz com estruturas subordinadas ao ciclo eleitoral. Distritos não são pessoas jurídicas — são arranjos dinâmicos, multissetoriais, que exigem coordenação estável, técnica e com visão de longo prazo.

Experiências internacionais mostram que a gestão cotidiana desses ecossistemas costuma estar nas mãos de estruturas jurídicas especializadas, com mandato claro e capacidade técnica para atuar a partir de uma visão sinérgica entre seus stakeholders. Para isso, é fundamental que sejam independentes, estratégicas e abertas à participação de múltiplos atores.

A presença de governos com a caneta na mão é essencial — como orquestradores das políticas públicas no território, parceiros institucionais e formuladores de agendas que garantam o alinhamento entre os interesses coletivos e os instrumentos institucionais disponíveis.

Mas a gestão cotidiana do ecossistema depende das mãos de quem tem missão, legitimidade e se orienta por evidências informadas em manifestos públicos. O mais importante é garantir que esse manifesto contemple não apenas os interesses governamentais, empresariais e acadêmicos, mas também os compromissos com a inclusão social, a proteção ambiental e a governança sempre regional, aberta e participativa. Ou seja: que princípios ESG não seja uma sigla decorativa, mas uma diretriz real de coordenação.

Mais do que uma formalidade, essa escolha define o tipo de inovação que estamos dispostos a construir.

Patricia Mello | Pesquisadora da Innovact